domingo, 15 de janeiro de 2023

Turismo afetivo VI - "Garrincha, a bola da vez"

Por José Vanilson Julião 

Na minha agenda do turismo doméstico, afetivo e rememorativo não estava previsto o encontro com Luiz Bezerra da Costa Júnior, o “Garrincha”, o maior craque da turma da meninada no final dos anos 60 começo de 70.

Até porque ele reside atualmente na cidade de Brejinho. Desde meados dos anos 80. Quando passou a trabalhar profissionalmente pela Empresa Industrial Técnica, conhecida pelo acrônimo EIT, e que pertencia ao ex-presidente do ABC, o engenheiro civil José Nilson de Sá.

A conversa inesperada com ele aconteceu na segunda confraternização de veteranos organizada pelo comunicador “Maninho” (Rádio Liberdade FM), numa mansão particular cedida, na comunidade de Ipueiras, que, na minha modesta opinião, já deveria ser transformada oficialmente em bairro pelo crescimento alcançado.

E novamente quem entra em ação é minha cunhada. Acontece que fiquei em casa para descansar das estrepolias da semana na Serra de Santana. E no começo da tarde, com Garrincha lá, Ana combinou com o mano para me apanhar. Acabei sentado estrategicamente ao lado do famoso futebolista cerro-coraense.

Luiz Júnior, assim o chama imperativamente a mãe, a professora aposentada, dona Ritinha, que era nossa anfitriã, com pão e café quente antes das peladas diárias no Estádio Othon Osório, localizado na entrada da cidade, que não é mais o cartão de visitas pelo crescimento da urbe para os lados do bairro Seridó.

A conversa inicial não poderia ter outro tema. O futebol. “Garrincha” desabafa que saiu cedo de Brejinho, nas primeiras horas da manhã, para ter o tempo necessário e comparecer a uma pelada com os amigos. “Só encontrei cinco. Ainda deu tempo para visitar a mamãe...” – Mesmo assim, ao retornar, só deu pra montar um time de futebol soçaite, diz, pesaroso, o craque.

Para incentivar iniciativa deste tipo, com mais vigor presencial, digo que para o próximo ano faça a programação que estarei lá para fazer a cobertura esportiva para os blogs “Cerro Corá News” e “Jornal da Grande Natal”. Já que adiantei na ocasião a encomenda de uma camisa para o terceiro encontro dos veteranos. O que “Garrincha” também fez no rastro do meu pedido (vi satisfação no rosto de Maninho).

Nas lembranças futebolísticas ele lembra o que eu havia esquecido. Garrincha não compareceu ao famoso jogo do Botafoguinho (ou foi com a camisa verde-amarela) no distrito de Recanto (1 a 2 para os visitantes).

Estava com um começo de pneumonia. E ficou choramingando pelos quatro cantos das paredes da sala, na Rua Monsenhor Paulo Herôncio (de Melo), antigo vigário de Currais Novos nos anos 40.

Como repórter, ainda mais colega de infância e visitante atrevido, lembro a ele o cacoete que abraçou inesperadamente. Sem cerimônia e com timidez confirma. Andava na calçada falando sozinho uma linguagem desconhecida e monossilábica: - "Memé, memé..." (até hoje ninguém sabe a origem da curta frase onomatopaica)

É aqui que entra mais uma vez nesta séria José Ailton Querino Costa, o “Dedé de Germínio”, que relembra pelo menos outros dois hilários "tiques" do nosso craque.

Num abanava o rosto do colega com a palma da mão e em seguida encostava entre o queixo e o pescoço do oponente (será que era para verificar se estava febril?)

No outro caso caminhava pela calçada, parava de supetão, apertava o calcanhar com os dedos indicador e polegar e levava ao nariz.

Já “Zé Mago”, que trabalha no mercadinho de Bezerra, gostava de chupar o polegar com o indicador encostado no nariz. Outro garoto gostava abrir o tanque dos carros para cheirar gasolina.

Mas todos eles foram deixados de lado, como por encanto, durante o período em que estudou no ginásio agrícola de Currais Novos. Se os amigos de Cerro Corá nada diziam e ignoravam, os novos coleguinhas, com espanto compreensível, reclamavam categoricamente.

No encontro dos veteranos também revi após longo tempo o empresário Francisco Menezes, o “Chico de Rita”, residente na cidade de Jucurutu, também seridoense. Portanto irmão de Luiz Júnior. Outro tricolor e corintiano raro naqueles tempos de botafoguenses, flamenguistas e vascaínos.

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