sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Turismo afetivo V - "O cassino de dona Amália'

 

Dedé Querino e Vanilson Julião conversam sobre reminiscências da adolescência em Cerro Corá, no prédio do antigo "café" (rua Sérvulo Pereira) que pertenceu a dona Jovelina Ribeiro

Por José Vanilson Julião

Na estadia de duas semanas em Cerro Corá uma das visitas programadas era ao meu amigo José Ailton Querino da Costa, o "Dedé". Mas não foi preciso meu deslocamento até a residência dele. Onde morou o padrinho de crisma de Valdir, o fiscal da coletoria Luiz Gonzaga Guedes, o "Seu Luizinho", marido de dona Marieta. Até encontrei um parente da esposa quando me recuperava de acidente doméstico no Hospital Dioclécio Marques (Parnamirim).

Ele mesmo compareceu ao "armazém" dos meus avós maternos. Trazido pela minha cunhada, Ana. Ela o encontrou numa casa lotérica perto do antigo mercado, onde hoje está instalado o arquivo municipal.

Foi uma hilária conversa de duas horas no final de tarde de meio de semana. Quando fiquei sabendo que o "Querino" dele é com "E" mesmo. E não com "I", como os demais irmãos.

Mas o incrível mesmo, depois de 50 anos, foi "Dedé" se lembrar da primeira pergunta que eu – ou Valdir – fez ao se encontrar com ele pela primeira vez em 1970. 

- Qual o time que você torce no Rio de Janeiro?

Relata que não conhecia nenhum clube carioca, apresentados nominalmente, não necessariamente pela ordem, Botafogo, Flamengo, Vasco da Gama, América, Fluminense, Bangu... Nomes conhecidos pelos irmãos pela leitura da conhecida “Revista do Esporte”.

Foi por isso, meio que de bate-pronto, como um chute de primeira, na rebatida da bola, que escolheu torcer pelo tricolor das Laranjeiras, vindo a ser mais um simpatizante do clube, somando-se a Luiz Júnior Bezerra da Costa, o "Garrincha", que herdara a simpatia do pai.

A esta altura, no começo daquele ano, depois de idas e vindas, morando na cidade ou na zona rural, o motorista paraibano e depois vereador Germínio Costa, com a esposa dona Amália, decide residir definitivamente na sede municipal para que os filhos estudassem. 

Inclusive um deles, Aécio havia passado uma temporada na casa de papai, quando morávamos na casa de Manoel Belmino, em frente à Praça Maria Luiza Guimarães. Lá por volta de 1965/66.

Com "Dedé" e os demais amigos citados ao longo desta série inédita o negócio não era somente futebol. Durante o São João percorríamos as ruas da cidade.

Para soltar traques, bombinhas, dentro de latas, e assar milho nas fogueiras em frentes as residências dos pais dos colegas. Foi numa dessas que Inácio de "Chico Doutor", hoje morando em Lagoa Nova, perdeu um polegar, em frente ao clube novo.

Era tradição passar na casa de dona Iracema, esposa de Passarinho, aquele mesmo,  gerente do posto Shell, no centro da cidade, no vazio hoje existente entre a casa do falecido comerciante Valdemar e o bar de Ivonez.

Ou na casa de Antônio Vieira, perto da residência de um vendedor de fumo de rolo para cachimbo ou cigarro de palha. Na "rua do Motor", apelido proveniente do grande motor estacionário, de cor verde, movido a óleo diesel, que fornecia energia elétrica. Até a inauguração (dezembro/1970), do fornecimento da usina de Paulo Afonso, no Rio São Francisco, na divisa Pernambuco/Bahia.

Outra atividade temporária da garotada era jogar buraco, pife-pafe (apostando dez centavos de cruzeiros ou caroços de feijão para ter o gosto de ganhar) e sueca na casa de dona Amália.

Entre os jogadores de baralho "Dedé", "Chaguinha" (irmão dele), Amalinha (irmã), eu, Valdir, e João Emanoel do Rego Costa, um pernambucano que veio morar e estudar na casa do cunhado, o engenheiro Paulo, da Bodominas.

João Emanoel, falecido inesperadamente de causa natural, no Recife, participou da criação do jornal "Correio Estudantil", ao lado dos manos e de Ariomar, o responsável pelos desenhos e a feitura de uma caricatura do prefeito Francisco Pereira, a partir de uma fotografia três por quatro, o chamado "boneco" na gíria da imprensa.

João também era colecionador de selos (filatelista amador). Não era craque, mas chegou a posar na seleção verde-amarela da meninada. Lembro que o engenheiro tinha um Ford Maverick vermelho, o primeiro que vi, automóvel concorrente do Opala, modelo da Chevrolet ou GM (General Motors), ambas montadoras norteamericanas. E se a memória não falha tinha um cachorro chamado "Roberto Carlos".

Na noite, véspera do Natal, antes da Missa do Galo, na Igreja de São João Batista, a pedida era tentar ganhar brindes com os coelhos de Sebastião Canário de Brito. A torcida era para o animal da orelha grande entrar na casinha de madeira com o prêmio mais valioso.

Com "Dedé" temos outras histórias futebolísticas. Até envolvendo "Garrincha". Ficam para a próxima e surpreendente narrativa. Com detalhes rememorados para não serem esquecidos na prateleira do tempo.

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