Refúgio de Carlos Canário na Serra de Santana pelas lentes de seu próprio celular
Por José Vanilson Julião
No primeiro dia das duas semanas em Cerro Corá, com a
imensa bagagem despejada no antigo armazém dos meus avós maternos, Valdir logo
se desloca para conversar com os amigos. Sou obrigado a acompanhar.
O técnico em geologia aposentado Túlio Libânio de
Melo, filho do falecido protético e ex-vereador Lourival Libânio de Melo e da costureira
dona Ana, dá a dica.
Aceita imediatamente. Subir a serra de Santana para
conhecer a nova casa “de veraneio” de Carlos Alberto Canário.
Muita bem distribuída em seus cômodos com amplo
terreno para árvores frutíferas (manga e caju se dão muito bem no terreno plano
e arenoso).
Inclusive a residência é ladeada com alpendres espaços
para as redes de dormir (visitantes que mandam). “Carlinhos de Babaia” e de
“Quinca Canário” havia me convidado para conhecer o refúgio.
Túlio é quem assume o volante para deixar o mano a
vontade para bebericar. No que concordo prontamente. Vai que aparece um guarda
na descida da serra.
O quinteto é composto, ainda, por um assessor para
assuntos aleatórios, etílicos e socorristas. Ailson, o “Gordinho”, filho de
“Aloísio Marchante”.
Carlinhos e Túlio colocam uma batata quente nas mãos
do redator: contar a história do Grêmio Presidente Kennedy. O clube social ficava
onde hoje está em reforma a Câmara de Vereadores, cuja sede funcionava, até
meados dos anos 80, em outro salão da Prefeitura.
Acabam contanto histórias hilárias e de reconhecimento
pessoais envolvendo a agremiação recreativa e futebolística, na qual um dos
protagonistas é um dos mentores do surgimento da entidade social e esportiva,
meu pai, José Julião Neto.
O auge do clube se dá entre agosto de 1967 (ano da
fundação) e 1972, pelo menos é o que alcança a memória seletiva.
Por esta época Carlinhos passa a residir
definitivamente na terrinha, após perambular pelo Nordeste afora com a família.
Pelas transferências do pai, o sargento do Exército Joaquim Canário.
A serviço do Batalhão de Engenharia de Combate e
Construção. De João Pessoa, capital paraibana, a Picos, no ensolarado interior
piauiense.
Conta, com orgulho mal disfarçado, que a garotada o
achava péssimo no jogo de "pingue-pongue" (tênis de mesa"), e,
por pura "maldade" e "desforra", amassava, com a botina, as
inocentes bolinhas brancas.
O celuloide com diâmetro de 40 milímetros, peso 2,74
gramas, então exalava um cheiro característico. E viciante. Que dizem ser gás
nitrogênio.
Nas oportunidades que surgia. Com o esférico
saltitante no salão anexo ao dancing. Mal rebatido ao quicar na mesa de madeira
pintada de verde com listas laterais e nos fundos em branco. Com a rede
divisória na mesma cor do retângulo. Confundindo o míope da ocasião (eu).
Para o desespero do primo Rui Barbosa, filho de “Passarinho"
(gerente do posto Shell do ex-prefeito José Walter Olímpio), um dos assíduos
mesatenistas. Façanhas que lhe renderam dupla suspensão do presidente Zé
Julião.
Túlio, por sua vez, lembra com carinho, nas férias
escolares, com a grana curta, Zé Julião lhe franqueava a entrada nas festas
dançantes - inclusive no carnaval.
Mas ele, do alto da dignidade e reconhecimento,
propunha tomar conta do bar do clube um tempo determinado, e Itamar, filho de
"Manoel Sapateiro" ou "Ventola", o outro período. E todos
se divertiam a valer...
Seu Manoel depois se estabeleceu com restaurante na
rua comercial, imediações da casa de jogos de Luiz Bezerra da Costa (pai do
craque Luiz Júnior, o “Garrincha”). Papai até autorizou lá, nas férias
escolares, o café da manhã.
Valdir beberica umas latinhas de cerveja. Peço uma
Coca, mas Carlinhos me oferece um aperitivo sem álcool. Muito suspeito. Aceito
pela consideração ao amigo.
Recipiente comprado na andança com a esposa Teresinha
pelo interior pernambucano. O litro branco, com adesivo amarelo - não lembro
nem as imagens - guarda um liquido esverdeado.
Na primeira lapada, bebericada aos poucos, de um
copinho quase miniatura, digo: - Eu sabia... Tomo cinco doses. Completo com
três copos de cerveja no retorno. Se arrependimento matasse...
No último contato Carlinhos disse que ia jogar fora a mistura - com hortelã e abacaxi - pelo excessivo tempo de maturação do restante do conteúdo (menos da metade).
Um comentário:
Amei a publicação. Um registro minucioso, vale muito a pena ler.
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