segunda-feira, 6 de abril de 2020

A figura simples de Zé Canuto

Por Valdir Julião 

Simples, carismático, sorridente, alegre e sempre bem disposto à boa conversa. Assim era "Zé Canuto", atrás do balcão que fazia questão de manter limpo no "boteco"  e que ele administrava há, praticamente, cinco décadas na rua Bevenuto Pereira.

Zé Canuto era um bom contador de estórias, clientes diversos, mas além disso, o que atraía os mais jovens, até hoje, era "a cerveja mais gelada" de Cerro Corá.

Pouco lembro às vezes que fui ao bar de Zé Canuto, mas recordo um dia especial, que entrou pra história como aquelas hilárias de mesa de bar e pé de balcão, isso porque o melhor em Zé Canuto era beber em pé, ouvindo suas conversas ou atento às conversas dos "bebuns".

Dezembro é o mês que sempre tiro férias da labuta diária. Numa dessas férias, há uns dez anos - quem pode confirmar o ano com precisão é Wellington Bezerra Júnior, com quem encontrei numa noite de sexta-feira no Bar do Ivonez. Depois de muita conversa e assuntos variados, a gente resolveu virar a noite, o que convencionamos de "dar uma redonda", ou seja, anoitecer e amanhecer na farra, na calçada de Vânia, mãe de "Juca".

Insatisfeitos e metidos a boêmios, a última opção e o único botequim a abrir logo cedo era o de Zé Canuto. Lá fomos nós, bem recebidos, papo vai, papo vem e Zé no meio. Tiragosto já não tinha mais. Ao se aproximar do meio-dia, Juca pediu a Zé Canuto pra trazer uma feijoada "em lata" do mercadinho de Geomagno Bezerra, quase em frente ao bar dele, onde funcionou o antigo "clube velho".

Zé Canuto não se fez de rogado, atravessou a rua Bevenuto Pereira e  trouxe a feijoada em conserva. Levou lá atrás, na cozinha, pra dar uma fervura. Mas haja demora, que levou Juca a ver o motivo: descobriu que Zé Canuto, já com "a vista" um pouco cansada, enganou -se com o rótulo e ao invés de feijão enlatado, tinha posto na frigideira ameixa preta.

Assim era Zé Canuto,  de quem Juca se despediu no Facebook, ao receber a notícia de seu falecimento no grupo "Fotos antigas de Cerro Corá", alimentado por Rodivan Barros, da seguinte forma:

"É com muito pesar que recebi essa notícia, do falecimento desse meu grande amigo. Descanse em paz "Bicho Véi". Eu e ele só nos chamávamos carinhosamente assim".

Um comentário:

Cássia Medeiros disse...

Descrição fidedigna desse homem simples e que deixou em cada um de nós, apreciadores de uma bebida e uma boa conversa, a marca de sua tranquilidade a nos receber sempre com a cerveja mais gelada da cidade, mistério que ele levou consigo pois no barzinho não tinha freezer, somente uma geladeira com congelador interno.