Ribeira Velha de Guerra!
Recentemente, andei pelos caminhos da Ribeira e me senti chocado quando vi ruas entulhadas de lixo, muitas casas fechadas, prédios comerciais destroçados e edifícios que eram referenciais de arquitetura, de beleza e de bom gosto transformados em ruínas a denunciar que, ao longo do tempo, são vítimas do abandono. Senti tristeza e vergonha dos governos antecessores e dos atuais que, até hoje, permanecem alheios as providências para interromper o ciclo de degradação daquela área.
Redobrei a minha atenção para não deixar escapar nada e segui a pé desejando encontrar alguém para jogar conversa fora. Nas imediações da Rodoviária lá está Tarcísio Marques, um resistente invencível, depois dos cumprimentos tradicionais, eu indaguei sobre a tão propalada revitalização do bairro e a resposta foi categórica: - Sempre duvidei disso, foi uma promessa, melhor dizendo, foi uma mentira, apenas uma grande mentira, hoje em dia, coisa muito comum nos discursos dos políticos. Comecei a conjeturar a reconstrução daqueles edifícios transformando-os em prédios de apartamentos populares com o apoio do Governo Federal, através do projeto Minha Casa Minha Vida; ele balançou a cabeça afirmativamente, tomou a palavra e seguiu enumerando as vantagens: Aqui já existe toda infra-estrutura, até drenagem coisa que a zona sul ainda não tem, transporte franco e na porta. - Pois bem, eu entendo que revitalizar é reconstruir, é dar vida nova, edificar moradias para fixar as pessoas o que, por conseqüência, revigoraria o comércio. - Mas, não é isso o que a gente vê por aqui. Concluiu.
Então segui pela Rua Dr. Barata, peguei a Frei Miguelinho e da esquina com a Ferreira Chaves foi possível observar lá no final da rua uma casa pintada na cor verde e amarela; aguçada a minha curiosidade, fui até lá, na calçada uma mesa com duas cadeiras e um cidadão sentado a tomar um aperitivo, cumprimentei-o com um sonoro bom dia! Era quase hora do almoço, ele retribuiu a minha atenção fazendo o convite para que eu sentasse e disse: O tempo aqui, agora, passa devagar e uma prosa diverte. Sentei, e conversa vai conversa vem, tive o prazer de conhecer o Marcos Antonio, o versado Coró, experimentado ex-barbeiro da Marinha, hoje aposentado, ali ele mora e vive sem pressa. O bate-papo foi se alongando e apreciei descobrir que o Coró conheceu Nonato no tempo em que esse era comandante da Base Naval de Natal a quem dedicou elogios e eu em nome do meu amigo prontamente agradeci. Coisas da vida! A prosa foi boa, mas o avançar das horas não permitiu sobejar tempo para as saudades da Ribeira de outrora, pujante durante o dia e alegre no decorrer da noite, com os seus bares e boates iluminados com lâmpadas coloridas e suas radiolas de ficha a tocar alto e em bom som os sucessos dos anos dourados das décadas de cinqüenta e sessenta.
Natal é uma cidade com vocação turística, disso não há a menor dúvida e essa é a principal razão pela qual não se faz entender a falta de interesse e vontade política para tornar realidade um projeto de revitalização capaz de transformar num Cartão Postal a Ribeira Velha de Guerra! Berço sagrado da história do RN. ‘
Natal, 10/08/2011
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