domingo, 22 de maio de 2022

Cerrocoraense conta sobre sucesso na gastronomia em Los Angeles, Califórnia

Clija Chait relata trajetória de vida na edição deste domingo (22) da Tribuna do Norte

Aprendizado com a avó em Cerro Corá

Por Letícia Medeiros*

Seridoense de Cerro Corá, a empresária Clija Chait tem conquistado cada vez mais espaço no mercado gastronômico de Los Angeles, nos Estados Unidos. Por lá, ela e seu marido Bill Chait comandam mais de 20 empreendimentos no ramo da alta gastronomia, com cozinhas premiadas e lideradas por chefs renomados. Sua história de vida poderia, facilmente, ser foco de uma produção hollywoodiana. O caminho para chegar nesse patamar foi árduo. Sem esquecer de suas origens, o mais novo negócio de Clija tem endereço em São José do Campestre, onde abriu nesta sexta-feira (20) o Precioso Supermercado.

Criada em um sítio a quatro horas de Cerro Corá, Clija comenta que os ensinamentos passados por por seus avós - a quem chama de pai e mãe - foram a base da sua educação, algo primordial para sua formação na área gastronômica. “Cresci no meio do mato, colhendo fruta da árvore, cozinhando em fogo de lenha e pescando com a mão. Nós não tínhamos refrigeradores, minha mãe usava linhas para pendurar peixes no sol e fazer a secagem para não estragar. Todas essas técnicas gastronômicas foram algo que aprendi e trouxe para minha vida”.     

Aos 15 anos de idade, veio para Natal contra a vontade dos pais, onde começou a trabalhar como babá e também teve uma experiência na empresa Guararapes. Iniciou no ramo gastronômico como garçonete e passou a atuar na área administrativa em restaurantes italianos da capital.  “Sempre tive a gastronomia aguçada e esse lado empreendedor em mim. Minha mãe vendia doce de leite e eu pegava o restinho, botava em copos e saía no meio da rua para vender. Adoro cozinhar, mas a área administrativa é a parte mais me completa”.          

Com 24 anos, foi morar em São Paulo onde conheceu seu marido, o renomado restauranter estadunidense Bill Chait. “Antes da mudança, sentia muitas coisas negativas acontecendo. Acabei entrando na área de estética porque eu realmente fazia o que aparecia. Não tinha uma condição financeira incrível, eu vivia ali no baixo mesmo e surgiu essa nova oportunidade. Conheci meu marido em uma reunião de trabalho porque também trabalhei em restaurantes por lá”, relata.             

O relacionamento seguiu à distància até que Clija mudou de forma definitiva para Los Angeles em 2016. Nesses seis anos, fez um curso de contabilidade na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) e passou a trabalhar na administração das empresas do casal.

Atualmente com 31 anos, desde que saiu da casa dos pais passou a se governar e valorizar essa independência. Hoje, o maior problema é a saudade dos seus.

Durante a pandemia, esse sentimento foi agravado. Além disso, o setor de alimentação fora do lar foi um dos mais duramente afetados no período. “Foi bem difícil, era doloroso ver nossos restaurantes fechados, construídos com tanto suor, amor e criatividade. E aí, temos duas escolhas: se lastimar ou correr para fazer as coisas acontecerem. Ficamos ligados no que o governo ia fazer e recebemos um estímulo financeiro. A pandemia realmente rasurou alguns de nossos restaurantes enquanto ajudou outros. Não fechamos nenhuma unidade, mas sofremos”, diz.

Em um mercado tão competitivo como o de Los Angeles, a linha elaborada pelos empresários para garantir a qualidade do serviço e produto é um diferencial. Questionada sobre a possibilidade de abrir um restaurante em terras potiguares, Clija descarta a opção. “A falta da nossa presença no estabelecimento gera uma complexidade porque acreditamos em um atendimento ótimo e na entrega e apresentação de uma comida de excelência”, comenta. Dentre suas atribuições, a empresária também comanda uma empresa de eventos para celebridades.

Da Alex Atala até a galinha caipira de Dona Fátima

Atualmente, Clija atua na administração dos restaurantes Tesse, Mian Taste, Caboco e Fanny's. As cozinhas vão da comida mediterrânea para a chinesa, passando pela brasileira e chegando no Museu do Oscar em Los Angeles. Além disso, são sócios da loja de vinhos Boutellier Wines e da Tartine Bakery, uma rede de padaria premiada, com quatorze unidades nos Estados Unidos e Coreia do Sul.

Para ela, gastronomia não é só sobre o alimento, mas sim sobre uma experiência. Essa perspectiva de mundo vem desde pequena quando ainda morava com seus  avós – Dona Ana Maria e Seu João Duarte - que eram agricultores e trabalhavam no campo. “A minha maior inspiração de negócios foi o meu pai. Ele sempre me incentivou muito, tinha o roçado dele e me deixava fazer uma plantação pequena. Tudo que ele fazia para ele, fazia para mim, e minha mãe me ensinou a parte gastronômica”.

Clija lembra de momentos da sua infância onde tinha pouco, mas sentia que tinha muito. “O ser nordestino, o nosso povo, é algo que temos que valorizar. No interior, as pessoas podem ter só um prato de comida, mas mesmo assim dividem com quem tem necessidade. Você não vê isso nos Estados Unidos. Por isso, como a comida da cozinha de Alex Atala e também a galinha caipira de Dona Fátima no Restaurante do Totóia”.

Em certos momentos, passa um filme na cabeça ao relembrar tudo que passou e aonde conseguiu chegar. Gratidão é a palavra que a move. Muitos anos atrás, mal conseguia pagar o aluguel, praticamente só comia miojo e passava por momentos de revolta com o que estava dando errado na sua vida. “Já cheguei a ajoelhar e chorar, perguntando a Deus o porquê, mas eu não desisti. Chorava e no outro dia levantava e seguia novamente”, diz. Quando menina, por volta dos seis, sete anos, destaca um episódio específico, onde viu um avião passar e escutou sua mãe dizer que, um dia, ela voaria mais alto.

“Lembro dessas falas, lembro com tristeza das dificuldades que passávamos. Lembro do tempo que minha mãe esperava chover para lavar roupa nas pedras. De acordar e perguntar o que tinha no café da manhã e ela responder, “minha filha, hoje não tem, vá caçar, vá procurar goiaba”. Hoje, eu posso ajudar meus pais e tudo que eu faço é para eles. Olho para o meu passado e vejo que Deus me preparou de uma forma genuína, desde lá da minha infância onde eu comia piaba seca com farinha, até ter o poder aquisitivo de ir em restaurantes com estrelas Michelin”.

Quando não está ocupada com os negócios, entre seus outros interesses, gosta de viajar, conhecer pessoas novas e tem uma apreciação especial pela arte e moda. Porém, brinca que sempre busca puxar esses temas e vincular com a gastronomia. Por tudo que passou e por todos com quem conviveu, os pés de Clija não saem do chão. “Minha mensagem é não desistir. Todos os dias, acordo de manhã, e se eu tiver um objetivo, falo em voz alta sem ninguém ouvir porque quero que eu mesma saiba daquilo. Eu digo “vou atingir, quero atingir” e não paro até conseguir”, finaliza.

Novo empreendimento será no agreste do Estado

Em passagem pelo Brasil, inaugurou nesta sexta-feira (20) seu mais novo empreendimento: a primeira unidade do Precioso Supermercados em  São José do Campestre. O conceito do local é de um ambiente “boutique” em pouco mais de 300m², com planos para expansão em outros lugares do estado. O negócio surgiu a partir de uma parceria de Clija com sua amiga de longa data, a administradora Priscilla Costa.

O intuito do empreendimento é proporcionar ao povo do interior um conceito diferenciado do que é fazer compras. Para tanto, o Precioso conta com uma extensa variedade de produtos em mercearia, hortifruti, limpeza e padaria, além de dispor de preços justos e entrega em domicílio. A primeira unidade vai contar com o trabalho de profissionais locais e de cidades vizinhas, prezando pela excelência no atendimento.

Segundo ela, a idealização do projeto exalta e celebra a cultura e história do povo nordestino e sertanejo. “Priscilla trabalhou comigo por muito tempo e surgiu essa ideia de fazermos algo juntas. Minha vontade era permanecer no ramo de alimentos e decidimos em um supermercado. Preferimos começar em  São José do Campestre porque  é onde ela mora. Investimos em algo bonito, mas acessível para o público porque é feito para eles. A minha intenção é retornar para retribuir o que as pessoas daqui fizeram por mim durante os períodos tão difíceis da vida”, diz a empresária.

*Letícia Medeiros é repórter na Tribuna do Norte

Um comentário:

jornal da grande natal disse...

Qual a comunidade rural dos pais dela? São filhos de quem?