sexta-feira, 23 de maio de 2014

Artigo publicado na quinta edição da revista "Giro Seridó"

Copa do Mundo “aos olhos” dos cerrocoraenses

A Copa do Mundo está na moda. E pela primeira vez um grupo de cerrocoraenses vai assistir ao vivo o torneio promovido pela Fifa em Natal. Aécio Querino Costa, a mulher Ivonise Dantas e o filho “Gero”. Uma situação bem diferente de outras Copas do Mundo, em que o torcedor da cidade foi habituado a ouvir pelo rádio, os jogos dos campeonatos mundiais de 1958 e 1962, quando o Brasil foi bicampeão ou mesmo no fracasso de 1966, na Inglaterra, onde a Seleção Brasileira foi eliminado ainda nas oitavas de final.
A família Querino Dantas é privilegiada entre milhares de torcedores que vão assistir os quatros jogos no estádio Arena das Dunas, que foi construído sob um clima de muita polêmica em substituição ao Castelão. Bem diferente dos anos 60, quando o torcedor de Cerro Corá tinha de se contentar com as narrações de Pedro Luiz, Edson Leite, pela rádio Bandeirantes, de São Paulo, e Valdir Amaral e Jorge Cury, pela radio Globo do Rio. As rádios Tupi, de São Paulo e Rio, e a carioca Nacional também eram ouvidas.
O QG para ouvir a narração podia ser a padaria de Zé Julião, que tinha de desligar o rádio por alguns momentos para esfriar o aparelho, devido o aquecimento das válvulas, embora o transistor já tivesse sido inventado nos Estados Unidos no começo dos anos 50.
Ficou para a história, o episódio de um dia de jogo do Brasil na Copa de 62: Francisco Pereira de Araújo, “Pereirão”, era conhecido por suas brincadeiras extravagantes. Na ocasião, surpreendeu a todos “soltando” uma bomba de São João no meio do salão, enquanto alguns torcedores ficavam de ouvido “colado” no rádio para ouvir melhor a narração, que na época tinha altos e baixos e “fugia” para desespero dos fervorosos torcedores cerrocoraenses. Foi gente correndo pra todo lado.
Mas, o tricampeonato de 1970, no México, também foi a grande Copa para os torcedores de Cerro Corá. Naquele ano, ocorria, pela primeira vez, a transmissão dos jogos da Copa pela TV brasileira. Na época, a Rede Tupi de Televisão tinha seus tentáculos estendidos por todas as regiões do Brasil, o império da Rede Globo, como é hoje, ainda engatinhava.
Em Cerro Corá ainda não havia chegado televisão. Em Lagoa Nova também não, mas nessa cidade, a 18 quilômetros de Cerro Corá e por estar encravada na chã da Serra de Santana e a praticamente a 700 metros acima do  nível do mar, havia condições propícias pra “pegar” o sinal da TV Tupi. Ao contrário de Cerro Corá, já havia chegado energia de Paulo Afonso em Lagoa Nova. Na terrinha, esse conforto de modernidade só chegou em dezembro de 1970 pelas mãos do então governador, monsenhor Walfredo Gurgel.
Não lembro se o sinal era captado a partir da antiga torre da Telern ou por uma re-transmissora na Serra da Borborema, a partir da Paraíba. Só sei que alguns cerroco-raenses se reuniram, acho que com o apoio do sargento Raimundo Mitre, um militar do Batalhão de Engenharia e Construção, do Exército, que andou pela “terrinha” perfu-rando poços artesianos para minimizar os efeitos da estiagem e falta de água naquele ano, comprou-se uma TV de 14 polegadas.
A imagem ainda era preto e branco, a TV “colorida’ só chegou no Brasil em 1972. O pessoal alugou uma pequena casinha em Lagoa Nova e durante os seis jogos do Brasil naquela Copa, uma caravana de cerrocoraenses se deslocava e se amontoava numa pequena sala para acompanhar os lances de Pelé, Gerson, Rivelino, Jairzinho e companhia captados pela famosa antena “espinha de peixe”.
O articulista aqui “guarda uma  pequena frustração”, não viu na TV, um privilégio de poucos, naquela época, a vitória do Brasil sobre a Tchecoslováquia, por quatro a um e contra a Romênia por três a dois, o primeiro e terceiro jogos pelas oitavas de final da Copa de 70. Era uma noite de quarta-feira, Zé Julião, meu pai, não me permitiu ao menino de calças curtas e nem ao seu irmão gêmeo, ver esse jogo.
Passada a desilusão inicial, nos foi permitido ver os jogos mais importantes, como a vitória de um a zero sobre a Inglaterra, nas oitavas de final, os quatro a dois em cima do Peru, nas quartas de final, os três a um contra o Uruguai, tido como o jogo da vingança de 1950, além da final  contra a Itália, quatro a um.
Pra o menino de calças curtas, “foi a glória”, ver a Seleção Brasileira “ao vivo”, mesmo que fosse numa telinha de 14 polegadas, que “chuviscava” bastante, mas não o  suficiente para atrapalhar os atentos olhos dos torcedores cerrocoraenses.
Por causa dessa imagem de “chuvisco” com a narração de Walter Abrão ou Geraldo José de Almeida, proporcionou-se uma cena hilariante, muito  lembrada pelo meu ir-mão gêmeo, José Vanilson Julião.  Conta ele, que seu Lourival Libânio de Melo, o dentista prático de  Cerro Corá, arrancou risadas de quem assistia um jogo da Copa do Mundo, porque no intervalo passava o comercial de uma determinada marca de Lâmina de barbear. Seu “Louro” terminou confundindo o barbeador com uma máquina enceradeira por causa da lâmina na extremidade e o cabo na outra.

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