quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Artigo: "As ruas da minha cidade I"

Por José Vanilson Julião*

Ao ler uma noticia no blog do DJ Aildo, sobre a 27ª Festa de Nossa Senhora do Rosário, padroeira do maior bairro de Cerro Corá (sede do municipio seridoense distante 190 quilometros da capital do RN), me veio à lembrança as caminhadas da infância e pre-adolescência pelas ruas e becos, entre o final dos anos 60 e o começo da década de 70, na então cidadezinha de quase três mil habitantes (atualmente a população passa dos 11 mil).
O bairro Tancredo Neves se chamava Casa Velha, nome tirado de um sítio das redondezas. Terminava na saída da estrada de barro, hoje asfaltada, de acesso ao então distrito e atual município de Bodó, que foi desmembrado de Santana do Matos no começo dos anos 90. Das pequenas casas, inclusive de taipas, construção ordinária de paus entrelaçados e ligados por uma massa de terra, uma liga de massapê, da qual surgiam as paredes, alternativa baratissima para quem não tinha condição de comprar tijolos e cimento.
Tinha a escola municipal, denominada professora Belmira Viana…A mercearia mais importante era a do sogro de “Chico Gordo”, o eterno rei momo do carnaval cerro-coraense. Ficava na esquina da estrada de barro, saída para a cidade de São Tomé, na região do Potengi, um trecho que, nos anos 70, durante a administração do então governador Cortez Pereira, ja se falava em asfaltar, até com incentivo do primo do governador, o coronel do Exército Rubens Pereira, que era seu secretario estadual de Segurança Publica.
Antes de Casa Velha tinha a “Rua da Ponte”, cuja residência de referência, a primeira a direita de quem segue em direçao ao norte (na saida da ponte), era a do vice-prefeito Jose Rodrigues, morto em acidente de caminhão, logo após ser eleito como companheiro de chapa para a primeira das quatro administraçoes do atual vice, Joao Batista de Melo Filho.
O principal atrativo da ponte, alem dos banhos, era a sangria do açude Eloi de Souza, construido durante a seca de 1932. Logo adiante havia a trilha de acesso ao “Cruzeiro”, ápice de uma rocha de granito, onde tem, tambem, a “furna da onça”. No local assisti uma partida do selecionado nacional, em 1971, contra a Argentina, pela Copa Roca, competição que vinha desde os anos 20. Pela televisão ainda em preto e branco, pela Rede Tupi. A antena fora instalada com apoio do meu pai, Ze Juliao Neto, e amigos, como o sargento Mitre, do Batalhão de Engenharia e Construção do Exército.
Na “ponte” passei um hilário episódio. Havia “fugido” da padaria do meu pai, com o mano, à tarde, para nadar. De longe avistamos o Fusca vermelho do papai. Mergulhamos. Segundos depois, voltando à tona, pois ninguém era invencível na “tomada de fôlego”, ele, de braços cruzados, esperando…
À época a criançada do futebol não chamava as ruas e avenidas pelos nomes oficiais, em homenagens as personalidades do lugar e, inclusive, a personagens nascidos no município de Currais Novos, do qual a antiga comunidade Barro Vermelho, depois Caraúbas, o distrito de Cerro-Cora, foi desmembrado em 1953.
Cerro-Cora começava no Hospital-Maternidade Clotilde Santina, o moderno prédio situado em frente o campo “Othon Osorio”. Era a “rua de baixo”, a Tristão de Barros, pai do ex-vice-governador e ex-reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Genibaldo Barros, parente do sogro do meu tio Luiz Juliao Cavalcante (“Lulu”), Nico Barros, pai dos meus amigos Rovan e Rodivan, técnicos da primeira televisão potiguar, a Universitaria (canal cinco). O ponto de referência era a “curva de Arian”, uma alusão ao dono de bar, pai do meu amigo Ariomar Felix, hoje residente em Manaus, capital amazonense.
Em demanda do centro mais uma rua, onde residia Ednor Pedro de Melo, o meu eterno motorista do caminhao De Soto (marca americana) laranja-vermelho, que seria parente, distante, do cangaceiro romântico, Jesuino Brilhante, das serras do Patu (Regiao Oeste). E da mercearia de seu Anjo, pai de Pereirinha (mora atualmente em São Paulo do Potengi) e Canindé, um dos rapazes “Jovem Guarda” da cidade. Mais outra, a dividida ao meio pela Praça Maria Luzia, a parteira da cidade, esposa do comissário de menores, Joaquim Guimaraes. Nesta pracinha fora instalada a segunda tv pública.
Estas ruas eram as duas zonas intermediarias da “rua de cima”, a outra da  turma da pelada ou bate-bola. Oficialmente chamada de Monsenhor Paulo Heroncio de Melo. Quase que somente de residencias. Depois da Paulo Heroncio, a Vivaldo Pereira, pai de Cortez. Atualmente chama-se Servulo Pereira, o prefeito, deputado estadual e empresario de mineraççao. Era e ainda é a “rua do comercio”, das mercearias de Joao Bezerra Galvao, Marconio Galvao e Valdemar Ferreira, pai de Marquinhos. E do “bar de Chico”. E do posto de gasolina de Manoel Leandro, tambem conhecido como Manoel Luis, pai dos amigos Rogerio e Carlinhos. No posto tinha uma lanchonete, na qual tomava o refrigerante Crush com pão doce, francês ou carteira, produtos da panificadora do papai, atualmente administrada pelo amigo João Alfredo, filho de Bezerra.
Entre as duas ruas a pracinha, oficialmente Tomaz Pereira, pai da diretora do Grupo Escolar Querubina Silveira, dona Zilma, pai de Eugenio. Da praça começava a “rua da Igreja”, a avenida São João, o padroeiro do lugar.
E tinha a “rua do motor”. Onde ficava o grande prédio com o motor movido a oleo diesel, que fornecia energia elétrica ate às 22 horas. Funcionou até dezembro de 1970, quando o então governador, monsenhor Walfredo Gurgel, inaugurou a energia da usina de Paulo Afonso (Bahia). Por hoje encerro…

*José Vanilson Julião é jornalista free-lancer em Natal, com passagens pelos diários "Tribuna do Nort" e "Diário Natal", semanário "Jornal de Natal" e mensário "A Grande Natal".

Um comentário:

Anônimo disse...

Troquei as bolas: a sequencia eh: rua de cima e rua de baixo, respectivamente Tristao de Barros e Monsehor Paulo Heroncio...