Foto - Alexis Régis
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Radialista santanense nos estúdios da Jovem Pan Natal |
Na praça, educação
física e cívica
Por Erasmo Magno*
No início dos anos 90, tive uma das mais marcantes lições de
civilidade da minha vida. Não me recordo exatamente do ano, foi em meados de
agosto para setembro, período de ensaios para o desfile de 7 de setembro. Numa
certa manhã, o diretor, professor José Bonifácio, da Escola Estadual
Aristófanes Fernandes, ao dar alguns
avisos no pátio do colégio, confessou que ficou triste ao caminhar pela “praça
da igreja” e perceber a quantidade de sujeira e borras de chicles sobre o
brasão que estampava o solo da praça. Em sua palestra, o professor chamou
atenção para a importância da educação social, cuidado com patrimônio publico e
cultural de uma cidade, bem como a preservação da paisagem construída pela história
urbana do município.
Ali, o professor indagou a todos nós: “Por acaso alguém aqui,
ajuda nas atividades de casa, alguém recolhe o lixo, cuida do quintal? Aos que
moram nos sítios, tem cuidado para não jogar lixo no mato?”
E muitos, envergonhados, sem dizer uma palavra, apenas com a
expressão, decepcionaram na resposta, por acaso, eu fui um deles.
Bonifácio, aproveitou que estávamos nos preparativos para o 7
de Setembro, sugeriu uma ação cívica ao
querido professor de Educação Física, Irani Oliveira (Irani da Caern), de nos
passar a lição.
Foi marcada uma aula de Educação Física na praça da igreja,
em um dia da semana, 5:30 da manhã,
antes da aula. Após minutos de
alongamentos físicos, e duas volta de corridas, pelo quarteirão da igreja,
Irani, nos reuniu no centro da praça, mas precisamente em cima do Brasão, e iniciou
a tão esperada missão, para nossa surpresa, era fazer um mutirão de limpeza,
retirar todo o lixo da praça, inclusive catando as borras de chicletes grudadas
entre pedras do Brasão santanense.
Para diminuir a insatisfação de toda turma, Irani chamou mais
alguns adultos, servidores da prefeitura para nos ajudar, inclusive durante
toda atividade, o professor Irani nos motivava, com elogios, com palavras de
incentivo e dizia que os nossos pais iram gostar de saber do nosso trabalho. O que parecia uma atividade ilógica,
desnecessária, sem fundamentos, opressora e anormal, ação ocorreu de forma
calma, agradável e produtiva, nos faz aprender na pratica muito mais daquilo
que já vínhamos ouvindo na sala de aula, lendo nos livros. Recordo ainda, que
no dia do desfile, no dia 7 de setembro, todos que passavam pela praça,
comentavam sobre o cenário limpo, organizado, preparado para momentos de lazer
social.
Registro essa história, para provocar a sociedade sobre o
fato que, não fará sentindo algum, o poder publico tombar, seja qual for o
monumento histórico, sócio e cultural, se não existir coparticipação das
pessoas no cuidado e preservação do espaço. O tombamento é de fundamental
importância, mas o essencial é o comprometimento dos que se beneficiam(mesmo
sem saber), da paisagem em questão. Nos arredores da matriz de Sant’Ana, há
muito que se tombar, não institucionalmente, mas no coração, na lembrança e na
consciência das pessoas. Concluo afirmando: o Brasão Santanense, da praça da
Igreja, foi tombado há muitos anos, através da educação física e cívica, no
coração de muitas gerações santanenses.
*Erasmo Magno, radialista e gerente de programação na Rádio
Jovem Pan Natal, é santanense radicado na capital potiguar desde meados dos
anos 90.