Com imenso pesar recebi a notícia da morte do poeta José Saldanha, considerado o maior cordelista do Rio Grande do Norte, verdadeiro ícone da poesia popular em minha terra e venerado por mais de uma geração de admiradores e por pessoas de todo o Brasil e exterior. Zé Saldanha, como era mais conhecido, nasceu em 23 de fevereiro de 1918, na fazenda Piató, em Santana do Matos. Partiu para a pátria eterna dos poetas grandes como ele, na terça-feira passada, dia 09 de agosto de 2011. Teve extraordinária atividade artística e mesmo com a idade avançada não parou de escrever. Impressiona o fôlego deste homem e a fecundidade de seu trabalho, uma produção que sem exagero ou débito de favor poria, tal como ele chegou a dizer, em cada fio de cabelo um cordel pendurado!
O poeta morou em minha cidade. Pelo que sei, foi num tempo em que eu não era nascido. Escreveu versos que enaltecem encantos e contam causos de Cerro Corá. Com algum constrangimento confesso que só quando eu não estava mais lá, é que vim a ter contato com sua obra. Esta é uma das razões pela qual seu nome não figurou no esboço de antologia dos poetas cerrocoraenses (não necessariamente nascidos lá) que organizei há quase dez anos, por ocasião da publicação de minha Sinopse da História de Cerro Corá. Esta lacuna, que poderia parecer injustiça ao poeta maior, deveu-se exclusivamente à minha ignorância e ao curto tempo que tive para levar a cabo um trabalho de maiores proporções cuja orientação prioritária não era, evidentemente, a poesia. Naquela época o horizonte intelectual que me foi legado pela universidade era, sob muitos aspectos, enrijecido pelas tradições dos cursos de Letras. Eu desconhecia muito da poesia popular, estudei na universidade todos os clássicos e, até quando me aprofundei na criação artística regional ou propriamente potiguar, estive totalmente ocupado com a ala predisposta pelos cânones acadêmicos de então, o que era normal. O fenômeno da literatura de cordel só de chispo foi tocado, em linhas muito gerais. Hoje sei que há estudos sérios sobre José Saldanha. Se naquele tempo havia, estavam fora de meu alcance. Claro que depois me deparei com o tesouro da escrita dele. Cheguei a pensar em fazer-lhe uma entrevista em versos, nos moldes da métrica e rimas próprias. Admirei-lhe de longe, eu tantos anos distante da terra natal. Respeitosa veneração! Não sei se nossos caminhos displicentemente alguma vez se cruzaram no chão potiguar. Provavelmente não, pois como eu não notaria o gigante que passasse pela minha pobre estrada? A vida é mesmo engraçada! E de tão contraditória até nos entristece em horas como esta, de perda e análise de perdas. Porém tenho certeza que lá do céu o poeta não lamenta nada! Ele ri da gente – está feliz e sabe que a sua poesia continua viva, vivíssima! O poeta agora faz rimas com Deus e de lá nos consola... Felizhttp://antoniofabiano.blogspot.com/2011/08/adeus-ao-poeta-jose-saldanha-maior.html