Quando comecei no jornalismo, na cobertura policial, no dia 5 de agosto de 1982, como estagiário, no diário matutino TRIBUNA DO NORTE, ao lado do editor Natanael Virginio, e dos repórteres fotográficos Anderson Lino (falecido) ou João Maria Alves, como também do desaparecido árbitro do futebol pernambucano e radialista Ubiratan Camilo de Souza (pela TN e Radio Cabugi, atual Globo), passei a conviver com outros repórteres da área e de outros veículos.
Entre eles o ex-marinheiro Givaldo Batista, o “Gigi da Mangueira” (já falecido ), editor de Policia do extinto matutino A REPUPLICA, centenário, fundado por Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, e fechado pelo governador Geraldo Jose Ferreira de Melo. Com Givaldo o escudeiro e mano Valdir, desde 1979, na cobertura esportiva e eventualmente na policial.
E pelo grupo dos Associados, controlador do desativado DIARIO DE NATAL, o currais-novense Elitiel Bezerra, o “Pepe dos Santos”. Tinha ao lado dois fieis escudeiros, o fotografo Carlos Alberto dos Santos Junior, que depois passou a ser funcionário do Instituto Tecnico-Cientifico de Policia (ITEP), e o fotógrafo Heracles Dantas, atualmente no diário vespertino O JORNAL DE HOJE. E pela emissora Associada, a Poti, Cesario ou Cesar Martins, o “colored”.
Era um tempo de uma disputa acirrada e saudável pelo furo de reportagem. Dos encontros de cadáver estampados com estardalhaço na primeira pagina. Dos supostos grupos de extermínio, como o “Mão Branca” ou “Esquadrão da Morte”. Com os bilhetes enviados às redações, aos gabinetes policiais. A simbologia da caveira. Real ou ficcional. Dos bandidos românticos, como “Pedro Caçarola” e os irmãos “Frigideira”, “Timbiras” e “Maria Panelinha”.
A primeira vez que avistei Pepe foi na Delegacia de Furtos e Roubos, que ficava na Travessa Ferreira Chaves, por trás do ITEP. O achei meio pomposo, com aquele gingado peculiar a sua magreza. Com o tempo o fui conhecendo melhor, ao ponto de perceber que gostava de umas “mentirinhas” para despistar os concorrentes e colher informações das fontes, que eram muitas. E sabia dos atalhos que um repórter novato foi descobrindo aos poucos e demoradamente.
Mas, era o lado folclórico dele, que portava um pequeno revolver calibre 22 milímetros, mas nunca precisou usar o trabuco. Naquele tempo, final da ditadura militar, outros também gostavam, mas não eram exibicionistas. Pepe, dizia-se, “dormia” nas delegacias. Na verdade tinha total apoio do comandante do DN, o suplente de senador Luiz Maria Alves, amazonense radicado em Natal desde os anos 40. Telefonava de casa, conta paga pelo “capo” Associado. Qualquer hora da madrugada. Interrompia ate ato sexual dos colegas.
Pepe pintava o cabelo. A tinta escorria na testa com o calor. Também dava uns trocados para conseguir informação privilegiada. Do lobisomem da Vila de Ponta Negra, invencionice para vender jornal em banca, confessou anos depois ao autor do texto. São muitas histórias deste homem, cuja foto, em pé, de bloco e caneta na mão, vi numa famosa cobertura da chacina de uma família de mulheres no outrora descampado de Capim Macio, no DN (1975).
Soube da morte dele por volta das 10h30 da segunda-feira. Pelo mano Valdir. Acabei dando um pequeno depoimento para a TN. Pepe era irmão do radialista Eliel Bezerra, o mais famoso noticiarista da Radio Brejui, fundada no final dos anos 50, pelo desembargador Tomaz Salustino, que ficou milionário com a exploração do minério de xilita (rocha que contem o estratégico metal tungstênio usado em foguetes). A emissora passou a ter o mesmo nome do município, Currais Novos, e recentemente passou ao controle da Igreja Católica, via Diocese de Caicó.
Um dos casos mais hilariantes. No morro da Cidade Nova, na Zona Oeste, encontro do corpo de um jovem. Seis horas da manha. No dia seguinte a TN estampa um homem sem camisa. O DN com a camisa. Pepe e Heracles acabam confessando que a foto real era da concorrência. São demitidos. Alves perdoa e o martírio para nosso lado recomeça.
Pepe começou na reportagem pelas mãos do narrador Roberval Pinheiro Borges, a quem costumava entregar notas de futebol amador no final dos anos 60, principalmente do Real Madrid da rua Benjamin Constant, no Alecrim, descida do Baldo, imediações da Salgadeira (Paço da Pátria), mesmo território de Marinho Chagas. O apelido veio do ponta-esquerda, o “canhão da Vila Belmiro”, como também e conhecido o Estádio Urbano Caldeira, do time paulista.
Santos também foi empresário de shows. Sobre ele fiz dois pequenos artigos para o mensal JORNAL ZONA NORTE, em 1996, uma iniciativa do jornalista Emerson Amaral, e para o desativado semanário JORNAL DE NATAL, meses antes de ele ser atropelado e antes de março de 2010, quando o JN deixou de circular na segunda-feira.
*Vanilson Julião é jornalista free-lancer
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