segunda-feira, 11 de junho de 2012

Uma ode a Bodó*

Relato do meu Bodó de hoje e outrora

Prá dizer quanto é bom estar aqui...

Certo dia me peguei analisando
Desde quando sai deste lugar
De saudades cheguei a soluçar
Descrevendo estes versos suspirando
Se pudesse para cá vinha voando
E aqui estar à brincar e à sorrir
De bem com a vida iria me sentir
Com amigos num barzinho ou nas calçadas
E por aqui brincar, dar gargalhadas
E dizer quanto é bom estar aqui

Quando encontro meus amigos em Natal
Conterrâneos e colegas de infância
Sempre tento enaltecer a importância
Exaltando minha origem natural
Em outras terras jamais será igual
Do contrário quem disser irá mentir
Peço ao amigo parar e refletir
Me orgulhando por ser filho de Bodó
Em outros versos que fiz já sei de có
E digo sempre o quanto é bom estar aqui

Nos bate-papos falamos com saudade
Daquela época para hoje: a diferença
Independentes de costumes e de crença
Nos deparamos com esta realidade
Ao sair do interior para a cidade
Procurando meios de subsistir
Quem ficou por cá há de convir
Sou apenas mais um nobre bodozeiro
E gostaria da atenção do povo inteiro
Prá dizer quanto é bom estar aqui

Nas conversas o papo se desenrola
E vejam só o que pude descrever
Quando aqui para aprender a ler
Aos dez anos foi que pude ir à escola
Depois ir na laminha jogar bola
Se de casa pudesse escapulir
Nem TV tinha para assistir
Mesmo sendo no tempo da ditadura
Com certeza violava a censura
Prá dizer quanto é bom estar aqui

Eu me lembro, quando tinha energia
Mas nós tínhamos a bondosa lua-cheia
Pra jogar nossa bola era de meia
Mas tudo era motivo de alegria
Os conselhos dos mais velhos sempre ouviar
Procurando bons caminhos pra seguir
Os resultados hoje estão e fluir
Pois com ele aprendi obediência
Ter caráter o melhor na sua essência
E falar o quanto é bom estar aqui

Como soldados da cabeça de papel
Eu brincava feliz à luz da lua
No terreiro de casa ou pela rua
Debruçado pelo chão olhando o céu
To no poço, cirandinha ou no anel
Um sentimento diferente irá surgir
Quantos motivos eu tinha pra sorrir
Pois eu era feliz e não sabia
Se possível no tempo voltaria
E dizer o quanto é bom estar aqui

Para viver na capital é um tormento
Se em casa não consegue dormir bem
Se dormir o ladrão leva o que tem
Se na rua fica sem o pagamento
Se der sorte e ladrão não for violento
Só não morre se der tempo de fugir
E lá na esquina estão à dividir
O que passamos todo mês para ganhar
Mas agradeço estar vivo prá contar
E dizer quanto é bom estar aqui

Mas aqui troco a noite pelo o dia
Tanto faz está em casa ou na pracinha
Bato papo e tomo minha cervejinha
Nossas casas não precisam de vigia
Minha vida por aqui tem mais valia
Meu dinheiro ninguém vai subtrair
Não preciso marcar hora prá sair
Toda forma de viver estou seguro
Respiro bem e encho o peito de ar puro
Prá dizer quanto é bom estar aqui

Já por lá para ver um conhecido
É preciso ter vontade e paciência
A distância – o trânsito – a violência
Nos estressa e nos deixa aborrecido
Ninguém sabe quem é bom ou é bandido
Proteção a Deus estou sempre a pedir
Sorte nossa se ele interferir
Para em casa conseguir chegar com vida
Gritaria com a garganta dolorida
Prá dizer quanto é bom estar aqui

Já aqui para encontrar um amigo
Só precisa estender a sua mão
Abraçando - o como sendo seu irmão
Assim como meus avós no tempo antigo
Fui criado sem fazer nenhum inimigo
Só coisas boas me pus a construir
E por isso não escolho onde ir
Sendo assim a recíproca é verdadeira
Ficaria falando a noite inteira
Prá dizer quanto é bom estar aqui

Se em Natal quiser sair para brincar
Com a mulher, namorada ou sozinho
Sempre aparece por perto um gaiatinho
Procurando meio de desacatar
E chamando sua amada prá dançar
Já cochicha lhe chamando prá sair
Se ela diz não, ele torna a insistir
E você perde a namorada pro vadio
Passaria mil noites neste frio
Prá dizer o quanto é bom estar aqui

Por aqui nós brincamos numa boa
Todo mundo se respeita e se quer bem
Ninguém liga para o que o outro tem
Sua mulher pode ser nova ou coroa
No vacilo o amigo lhe perdoa
Só não pode abusar e repetir
Falo sério não preciso de fingir
Todo mundo já conhece o meu jeito
Os amigos, professores até o prefeito
É por isso que é bom estar aqui

Para ouvir um violão com os parceiros
Ricardinho com certeza quebra o galho
Com Erivan cantando Fagner e Zé Ramalho
Não preciso dispor muito de dinheiro
Assim fico por aqui o ano inteiro
São coisas nossas que devemos aplaudir
Jamais em outro lugar vai existir
Nossa terra é completa de artista
Como aqui eu duvido que exista
É por isso que é bom estar aqui

Sendo assim, varo pela madrugada
Isso sim é que chamo de um barato,
Baixinho e Tota canta fevers e Renato
E o nego Hélio vai de Noite Ilustrada,
Já Colega vai chegando na parada,
Canta Carro-de-boi pra gente ouvir
Acho bom e peço para repetir
E ele vai um pouco desafinado
Fico atento a seu verso improvisado
E é por isso que é bom estar aqui

E o futebol nas minha recordaões
Merecemos um destaque especial
Naquela época não havia outro igual
Quantas vezes nos sagramos campeões
Fluminense e Tungstënio, as sensações
Eram os melhores e ninuém vai discutir
Todo mundo parava para assistir
Esse era o melhor clássico do lugar
Minha memória jamais irá falhar
Pra dizer o quanto é bom estar aqui


E assim recrio um a um na minha mente
Quem não lembra a elegäncia de Lulinha
Zé Silvino era o nosso Mirandinha
E Cioba a cabeçada mais potente
Tota e Chaga uma zaga experiente
Quem os viu pode hoje conferir
Ele fizeram outra geração surgir
Como Chiquinho, Deda e S[ergio de Dolo
João de Chaga o goleiro, o melhor
É por isso que é bom estar aqui

E como filme que guardo na memória
Descrevo este lugar em verso e prosa
Nosso passado a lembrança tão saudosa
Que fazem parte importante dessa história
Um passado de preserverança e glória
Vou fazendo nesses versos ressurgir
Não podemos deixar inexistir
E recorro ao bom Deus da criação
Que me ilumine e me dê inspiração
Pra dizer o quanto é bom estar aqui

Nossa gente, nossa crença e devoção
Quem não lembra a carismática Carmelita
Para nós uma lembrança infinita
Grande era seu nobre coração
Frei Antônio que nos dava sua benção
Que por nós junto a Deus possa intervir
Com certeza a ele sim irá ouvir
O nosso humilde e bondoso mensageiro
Catequizou o povo bodozeiro
É por isso que é bom estar aqui

Continuo lembrando com carinho
A brancura dos cabelos de honorina
As famosas pernas tortas de Faustina
Quantas vezes cruzaram estes caminhos
Severino Nogueira, meu padrinho
Zé Aurora um xerife a lhe servir
O dinheiro gerente da era Waldir
Zé Quitéria um cacique bodozeiro
O abnegado padrinho dos garimpeiros
E vou dizendo que é bom estar aqui
 
*Transcrito do blog DLNews..., de autoria do poeta Joventino.

2 comentários:

Anônimo disse...

Zé Quitéria e Severino Nogueira, grandes figuras de Bodó, os conheci menino. Nogueira deu o primeiro emprego a Zé Julião, no balcão, a pedido do pai dele, José Julião Filho. (Vanilson Julião). PS>: lembro do Fluminense de Bodó, sempre jogando em Cerro Corá, final dos anos 60, começo dos 70. Acuma era o nome do goleiro deles...

Elias Dantas disse...

Muito bom!