José Milanez – o poeta assassinado
pela mão negra do destino
A mão negra do destino
O monstro da luz opaca
Traçou um sinistro crime
O plano da gente fraca,
Sem permitir a defesa
Como infernal jararaca
Matou José Milanez
Nosso poeta benquisto;
Que foi homicidiado
Pelo destino imprevisto,
Que matou como mataram
Os santos apóstolos de Cristo
Monstro tirano sem riso
Desonesto e mascarado
Desumano e malfeitor
Cego, inculto e mesclado,
Invejoso e mal conduta
Maligno, insulto e malvado
Um portador da vileza
Da mentira e da maldade;
Da ambição, da inveja
Do ódio e da falsidade,
Fingido, sem coração
Sem alma e sem piedade
Um aborto desperdiçado
Dos símbolos da incerteza;
Excremento dos micróbios
Putrefato da impureza,
Amigo do opaquismo
Um vulto da natureza
Um verdadeiro prostíbulo
Escombro da negligência;
A vermífica bactéria
Da putrifa má essência,
Protozoário das chagas
Larápio da consciência
Imundo, cheio de faltas
Predisposto para o mal;
Subiste o teu alto cúmulo
Do teu íntimo pessoal,
Representaste os valores
Do teu intelectual
Mataste o nosso poeta
Sem permitir-lhe as defesas;
Tua alma, tinta de sangue
Tem sangue nas tuas presas,
Tuas mãos enodoadas
Mostrando as tuas vilezas
Mataste o nosso poeta
Famoso e especial;
O seu nome é conhecido
Pelo Brasil em geral,
Catorze anos à frente
Do sindicato rural
Amigo, calmo e risonho
Voz harmoniosa e mansa;
Muito alegre e maneiroso
Cheio de perseverança,
A quatro mil sócios rurais
Dava amor e confiança
Resolvia as questões deles
Perante a autoridade;
Levava aos hospitais
Havendo necessidade
Os trabalhadores tinham-lhe
A mais finíssima amizade
Quatro mil sindicalistas
Choram pelo presidente;
Tristonhos e cabisbaixos
Derramando um pranto quente,
Não sei o que é que reina
No peito daquela gente
A família do poeta
Se conserva comportada;
Família de bom estudo
Tornou-se resignada,
Suportando as tristezas
Mas sem blasfemarem nada
Ao poeta Macedo
No estado de Goiás;
Mando minhas condolências
De modos sentimentais,
Você aí sente muito
Aqui o pranto é demais...
As condolências poéticas
Que chegam do Paraná;
De Brasília e da Bahia
Do Maranhão, do Pará,
Pernambuco e Paraíba
Piauí e Ceará
As rádios clamam chorosas
O jornal transmite tristonho;
Uns dizem que é mentira
Parece até ser um sonho,
Deixou nosso Rio Grande
Num pesadelo medonho
O fantasma de calçola
Bruxo da iniquidade;
Que assassinou Milanez
Com tanta perversidade,
Teu crime tem que pesar
Na lei de penalidade
A justiça justifica
Todo crime que acontece;
Examina com cuidado
A pena que o crime oferece,
Na mão plena da justiça
Quem tiver crime padece
O poeta é um passarinho
Que por Deus é instruído;
Quem mata um poeta é
Um monstro despercebido,
Mata um poeta e deixa
Mais de um milhão ferido...
O nome de um criminoso
O mundo sempre aborrece;
O poeta mesmo morto
O seu nome ainda cresce,
É certo: o poeta morre
Mas o seu nome permanece
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