Colaborador de Navego, repórter experiente na cobertura policial entre 1982 e 1990, relata detalhes da operação que resgatou 90 penosas sequestradas em município do Seridó
*José Vanilson Julião
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O caso das galinhas surrupiadas em Cerro Corá teve desfecho digno de investigação do detetive Sherlock Holmes, personagem do escritor escocês, médico e Sir Arthur Inatius Conan Doyle (1859 – 1930). Ou do não menos famoso investigador criminal Hercule Poirot, criação da inglesa Agatha Mary Clarissa Christie (1890 – 1976). E do Jules Maigret, do belga Georges Joseph Chistian Simenon (1903 – 1989). Todos saídos da literatura ficcional e do romance policial para os quadrinhos e o cinema.
A apuração formal começa com o Boletim de Ocorrências registrado horas depois do sumiço das penosas do sitio Condessa. José Rodrigues dos Santos Neto esclarece que não mora na comunidade e que os vizinhos escutaram um barulho no final da noite da segunda-feira (08). Sem indicar suspeitos. Quando entra em cena a perspicácia e a experiência do destacamento da cidade, o sargento Rivanildo Alves Brasão.
Sem o aparato técnico da Polícia Metropolitana de Londres – a “Scotland Yard” pela antiga sede central – e o suporte financeiro do FBI (escritório federal de investigação norte-americano), aparelhada por 38 anos pelo diretor John Edgar Hoover (1895 – 1972), obtém a informação de que costumeiros “caçadores” foram vistos na área. Certamente anota nome do suspeito com histórico de furto e “modus operandi” com foco em… Aves!
Com vistoria “in loco” verifica marcas de pneus de automóveis nas imediações do lar das galinhas, o “galinheiro”. Diante de pistas frágeis vislumbra fotografar os vestígios deixadas pelo carro. Estalo importante para desvendar o mistério que prometia durar para sempre e lembra o adágio popular de que “não existe crime perfeito, mas mal investigado.”
Logo na manhã da terça-feira o policial militar se desloca para a cidade de Lagoa Nova, onde o suspeito reside, mas não o encontra. E assim procede nos dias seguintes. Até que na sexta pela manhã encontra um Gol Volkswagen estacionado, faz a comparação e constata a coincidência… Interrogado o suspeito nega inicialmente, entra em contradição e acaba confessando.
Das 90 galinhas 50 morreram no trajeto para o sítio Baixa Verde, na saída para o vizinho município de Bodó, quando as penosas foram abrigadas numa casa abandonada. Apresentados ao delegado civil os protagonistas do roubo se dispuseram a pagar o prejuízo.
O redator agradece a participação importante do conterrâneo Carlos Alberto Canário, que, aposentado como participante do suporte técnico da Televisão Cabugi, e com faro jornalístico, põe em circuito com o repórter o sargento Brasão. Inclusive, no áudio do policial, se escuta a voz de… galinhas!
A repercussão da odisséia das galinhas até suscita lembranças. Como a da conterrânea Cássia Maria. Durante apelo do repórter por pistas em rede social sapeca: – Recém nascida, dormia tranquila no berço na casa grande da Fazenda Tupã, quando minha mãe percebe que, na hora de mamar, para surpresa dela, uma galinha estava tranquilamente deitada sobre meu corpo.
Prossegue: – O susto foi tão grande e a preocupação maior era que eu pudesse ser machucada caso a galinha se assustasse. Pegando-se com Santa Rita de Cássia afugentou a galinha, que saiu de fininho, deixando um ovo sob minhas axilas. Não tive um só arranhão.
Como repórter experiente na cobertura policial entre 1982 e 1990, para finalizar, ouso afirmar que os ladrões de galinha agem pelo costume e pelo impulso de aproveitar a oportunidade que aparece. Sem ter qualquer lucro inflacionário…